07/02/2011
às 14:57 \ Pelo mundo “Se estamos vendo um declínio nos padrões de letramento infantil, isso se dá apesar das mensagens de texto e não por causa delas”, afirma a psicóloga Clare Wood, da Universidade de Coventry, na Inglaterra, que conduziu nos últimos dez anos um estudo sobre o assunto com crianças de 8 a 12 anos.
A conclusão de Wood (em inglês, acesso gratuito) aponta para o oposto daquilo que, nos últimos tempos, vem deixando pais e professores à beira de um colapso nervoso: não só a famigerada “linguagem” cheia de abreviações do MSN e dos torpedos não faz mal nenhum como, ora veja, faz bem! O estudo constatou que quem tc msg no cel o dia todo, entre abrax e bjusss, tem maior capacidade de escrita e leitura do que quem não faz isso.
A revelação pode ser contraintuitiva, mas sou obrigado a dizer, com humildade, que não me surpreende nem um pouco. Há cerca de uma década, costumo tranquilizar leitores alarmados dizendo que, filosoficamente, não há diferença entre a notação cifrada da cultura virtual e a velha Língua do Pê. Em ambos os casos, trata-se de brincar com a língua, o que é uma forma de tomar posse dela, e criar um patoá que, como as gírias em geral, cumpre a função de reforçar a identidade de um grupo.
Decorre daí que a reação apocalíptica dos que se julgam zeladores da língua formal também é compreensível, mas apenas como parte de um jogo de cartas marcadas. Como diz o historiador Peter Burke, estudioso da história das gírias, “enquanto muitos grupos de pessoas definem sua identidade por meio do uso de jargão, um grupo, o dos críticos, define a sua por meio da rejeição do jargão dos outros”.
Ah, mas com o tempo os pequenos bárbaros digitais vão acabar esquecendo que msg é “mensagem” e transformando a ortografia em bagunça? Duvido muito, mas, se mudanças do gênero vierem a ocorrer, convém lembrar que a ortografia é apenas o verniz da língua, uma roupa que as palavras vestem e abandonam conforme os ditames do tempo. Gravata já foi gorovata em bom português, e nossa civilização não se tornou ágrafa quando deixou de ser.
Aqueles que, como eu, foram criados vendo televisão desde pequenos sabem o que é um verdadeiro ambiente hostil à cultura escrita. Esta, depois de mais de meio século perdendo a guerra, tem na internet (etc.) uma poderosa e inesperada aliada.
A conclusão de Wood (em inglês, acesso gratuito) aponta para o oposto daquilo que, nos últimos tempos, vem deixando pais e professores à beira de um colapso nervoso: não só a famigerada “linguagem” cheia de abreviações do MSN e dos torpedos não faz mal nenhum como, ora veja, faz bem! O estudo constatou que quem tc msg no cel o dia todo, entre abrax e bjusss, tem maior capacidade de escrita e leitura do que quem não faz isso.
A revelação pode ser contraintuitiva, mas sou obrigado a dizer, com humildade, que não me surpreende nem um pouco. Há cerca de uma década, costumo tranquilizar leitores alarmados dizendo que, filosoficamente, não há diferença entre a notação cifrada da cultura virtual e a velha Língua do Pê. Em ambos os casos, trata-se de brincar com a língua, o que é uma forma de tomar posse dela, e criar um patoá que, como as gírias em geral, cumpre a função de reforçar a identidade de um grupo.
Decorre daí que a reação apocalíptica dos que se julgam zeladores da língua formal também é compreensível, mas apenas como parte de um jogo de cartas marcadas. Como diz o historiador Peter Burke, estudioso da história das gírias, “enquanto muitos grupos de pessoas definem sua identidade por meio do uso de jargão, um grupo, o dos críticos, define a sua por meio da rejeição do jargão dos outros”.
Ah, mas com o tempo os pequenos bárbaros digitais vão acabar esquecendo que msg é “mensagem” e transformando a ortografia em bagunça? Duvido muito, mas, se mudanças do gênero vierem a ocorrer, convém lembrar que a ortografia é apenas o verniz da língua, uma roupa que as palavras vestem e abandonam conforme os ditames do tempo. Gravata já foi gorovata em bom português, e nossa civilização não se tornou ágrafa quando deixou de ser.
Aqueles que, como eu, foram criados vendo televisão desde pequenos sabem o que é um verdadeiro ambiente hostil à cultura escrita. Esta, depois de mais de meio século perdendo a guerra, tem na internet (etc.) uma poderosa e inesperada aliada.
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